MINUTO DO ESPECIALISTA

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Ações Avançadas de Segurança Radiológica para Laboratório de Hemodinâmica

Data Publicação: 2019-02-08 15:49:00

Quando o Físico Especialista em Física do Radiodiagnóstico confecciona o Plano de Proteção Radiológica, ele deve integrar este documento com o programa de garantia de qualidade da instituição, junto com uma matriz educacional de treinamento referente às ações de segurança radiológica.

O objetivo da referida integração é evitar que os equipamentos sejam operados fora das condições exigidas na Portaria 453 MS; assegurar que as ações reparadoras necessárias sejam executadas mediante um programa adequado de manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos e determinar os valores representativos das doses administradas nos pacientes em decorrência dos procedimentos realizados no serviço e verificar se podem ser reduzidas (levando-se em consideração os níveis de referência estabelecidos na Portaria 453 MS).

Hoje, entre os profissionais envolvidos nos referidos programas de proteção radiológica e de garantia da qualidade, existe um consenso: realizar apenas as ações exigidas nas legislações vigentes nacionais e internacionais não é suficiente para eliminar a possibilidade de anomalias relacionadas com as doses de radiação impingidas aos pacientes e equipe técnica.

Sendo assim, desenvolvemos um conjunto de seis ações avançadas de segurança radiológica, as quais possuíam como objetivo principal diminuir os níveis de exposição impingidos à equipe técnica e pacientes. São elas:

1. Rotinas de calibrações especiais e diferenciadas para os níveis específicos de dose para o MODO FLUORO de funcionamento.

I – Baixo ≤ 50 mGy/2;

II – Normal ≤ 50 mGy;

III – Alto ≤ 174 mGy;

 

2. Rotinas de auditoria técnica para liberação do equipamento para uso após manutenção preventiva e corretiva.

 

3. Rotinas de treinamentos avançados de segurança radiológica e padronização técnica.

 

4. Rotinas de padronização tecnológica – configuração de protocolos pré-selecionados (baixa dose; sem magnificação; 10 Quadros/s).

 

5. Gestão avançada dos assentamentos de dose, emissão de relatórios, criação de indicadores, investigação de dose e definição de metas.

 

6. Rotinas de calibrações especiais e diferenciadas para os níveis específicos de dose para o MODO CINE de funcionamento.

I – Baixo ≤ X/2;

II – Normal ≤ X;

III – Alto Nível ≤ 2X;

Sabemos que o nível de exposição à radiação está relacionado diretamente com o grau de conhecimento que o operador médico possui do equipamento de cinefluoroscopia e às ações de segurança radiológica. A implementação de rotinas de padronização técnica, somadas com rotinas de padronização tecnológica e assentamentos de dose, reduzem, ainda mais, os referidos níveis de exposição à radiação para o paciente e equipe técnica.

Possuímos algumas experiências onde os resultados evidenciam a diminuição do perfil de exposição e aumento da vida útil dos equipamentos, como resultado da implementação de um conjunto de ações avançadas de segurança radiológica para um laboratório de hemodinâmica.

 

Ações avançadas de segurança radiológica

Estas referidas experiências, em que obtivemos ótimos resultados, foram viabilizadas pela implementação das ditas ações avançadas de segurança radiológica desenvolvidas, utilizando como referência orientações a AIEA, ANVISA e AAFM. A revisão bibliográfica específica e orientações normativas apresentadas culminaram na produção das seis ações avançadas. Cabe ressaltar, que dentro de cada ação avançada temos: teste de controle de qualidade e segurança radiológica, com suas periodicidades mínimas, ações de padronização técnica/tecnológica, treinamentos e assentamentos de dose.

Com o objetivo de quantificar e avaliar os resultados das ações avançadas de física médica, sugerimos a criação de um parâmetro técnico de referência que chamamos de “exposição ocupacional por exame - EO” – perfil de exposição. A definição é a seguinte:

 

EO = Total da exposição da equipe técnica/número de exames

  • Total exposição da equipe técnica = Soma de todas as doses efetivas recebidos por todos os profissionais monitorados do laboratório de hemodinâmica
  • Número de Exames = Soma dos exames realizados no laboratório no mês.

 

Após implementarmos as seis ações avançadas de Física Médica em três laboratórios de hemodinâmica no estado do Rio Grande do Sul, verificamos:

 

A - Uma redução média de 58% no indicador de exposição ocupacional por exame EO.

B- Uma redução média de 62,2% na porcentagem de procedimentos realizados no laboratório de hemodinâmica que extrapolou a dose crítica de 2 Gy.

C - Um aumento de durabilidade média do tubo de raios X de 91% de incremento da vida útil do tubo em 3 laboratórios de hemodinâmica.

 

Cabe ressaltar que a ocorrência dos efeitos determinísticos da radiação X, que hoje verificamos em alguns pacientes, está associada à falta de controle de qualidade no equipamento de cinefluoroscopia, somada, ocasionalmente, a uma falta de padronização da técnica/tecnológica de cateterismo com uma falta de conhecimento das ações avançadas de segurança radiológica.

Com o objetivo de monitorar e corrigir a referida falta de controle de qualidade e falta de conhecimento das ações de segurança radiológica, se faz necessário a implementação de um conjunto de ações avançadas de segurança radiológica - incluindo, por exemplo, a criação de uma rotina de liberação da sala após a realização das manutenções corretivas e preventivas. O processo de liberação de sala é descrito pelos ensaios definidos pela Portaria 453 MS, e a liberação da sala para uso estará condicionada aos limites máximos permitidos, procedimento integrante do programa de controle de qualidade em equipamentos de cinefluoroscopia.

Tendo em vista o aumento da exposição verificada nos pacientes e equipe técnica, na maioria dos laboratórios de hemodinâmica do país, podemos afirmar que este problema está associado à falta de conhecimento dos profissionais responsáveis pela proteção radiológica, dos referidos laboratórios, referente às ações avançadas de segurança radiológica. Somando a isso o desregramento e descontrole das intervenções técnicas realizadas nos equipamentos de cinefluoroscopia e a falta de padronização da técnica de cateterismo cardíaco.

Podemos concluir que, sem a implementação de rotinas avançadas de segurança radiológica, os laboratórios de hemodinâmica estão expostos ao um nível muito elevado de indução de efeitos determinísticos da radiação X em pacientes e a extrapolação dos níveis de dose da equipe técnica envolvida no procedimento.

 

Considerações finais

A sugestão apresentada neste texto seria incentivar a reprodução das experiências técnicas, tecnológicas e educacionais em laboratórios de hemodinâmica de todo o Brasil. O objetivo é realizarmos um controle mais profundo das rotinas de segurança radiológica, junto com a diminuição dos níveis de exposição à radiação ionizante aos pacientes e equipe técnica, sem a necessidade de limitar o uso do recurso tecnológico.